Então, Hebe Camargo se foi. A doença veio e, como para todo o mortal, houve um dia em que seu corpo chegou ao limite final, como acontecerá para todos nós. O sentimento é de perda, consciência de finitude e um tempo que não volta. Não mais os “gracinha”, as roupas e joias chamativas, o sorriso inigualável e a personalidade marcante.
E ela não queria partir: "Não tenho medo de morrer, tenho peninha. Peninha de deixar as pessoas que amo e essa vida tão boa que tenho”, disse em uma entrevista. E a menina do interior morreu poderosa, com seu velório sendo realizado no Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo de São Paulo. “Ela se vai em tempos em que o Brasil celebra a sociedade do consumo que ela, em sintonia com a TV, ajudou a construir”, analisa a antropóloga e professora da ECA_USP, Esther Hamburger (Folha, Ilustrada, 300912).
Mas os mitos não se vão facilmente. São como Marilyn Monroe ou Brigite Bardot, pessoas com as quais ela se identificou na loirice adquirida e também na mediação que fez entre um mundo fantasioso e mágico e a vida comum, quer dizer, uma mulher simples que vai do anonimato ao estrelato e lá permanece, como que representando todas as mulheres. Não são assim que os mitos são construídos? “Ela nos ensinava a como sermos mulheres”, disse uma entrevistada em um dos telejornais.
Podemos discordar, sob o ponto de vista ético-cristão, de muitas das atitudes de Hebe durante a sua vida, mas temos que admitir seu esforço em influenciar, relacionar-se e alegrar-se com as pessoas a sua volta. Quantos de nós fazemos o mesmo? Sendo sal e luz, com o poder do Espírito Santo, muitas vezes ignoramos completamente nosso potencial de influência, de cuidarmos uns dos outros e vivermos e repartimos a alegria que vem como graça de Deus sobre nós. E ainda mais, tornarmo-nos pontes, não para um mito, mas para uma realidade maravilhosa que é a pessoa do Senhor Jesus. Um dia, quando partirmos deste mundo, o que deixaremos como legado?
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em O Jornal Batista, 14outubro2012)