segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TODO MUNDO USA

Na propaganda de uma marca conhecida de sandálias, uma vovó de 84 anos sugere a neta que faça sexo com um ator de TV que acabara de entrar no recinto, dentro de um contexto em que o slogan do produto é Todo Mundo Usa. Após reclamações de telespectadores e o início de um processo pelo Conar – órgão dos publicitários que regulamenta a propaganda – o comercial foi retirado do ar. A atriz octogenária mostrou-se espantada da propaganda ter causado problemas, dizendo que: “As pessoas estão desatualizadas. Sexo está na boca de todo mundo, como bala na boca de criança” (Globo.com, 240909).
Vivemos em uma sociedade em que o consumo, em grande parte, se tornou um fim em si mesmo. Para consumir, as pessoas trabalham demais, compram, e porque compram trabalham ainda mais. É difícil para o ser humano moderno separar o ser, o ter e o trabalho. A identidade muitas vezes é projetada no que a pessoa faz e tem e não no que ela é. O ter confere status e, por conseguinte, valor.
É por essas e outras razões que a propaganda tem uma força tão grande. Por ela somos instigados a sentir necessidades, nem sempre reais, a desejar e a adquirir o que nos é mostrado. Um dos pensamentos presentes em nossa mente como consumidores é: se todo mundo tem por que eu não posso ter? Ou se todo mundo usa porque não vou usar? Daí o grande perigo de associar valores éticos, morais e sociais na propaganda.
Foi o que aconteceu com o comercial das sandálias. Se todo mundo faz sexo sem amor, sem compromisso, a neta poderia fazer isso também, é a dedução lógica. É louvável que muitos tenham se pronunciado contra a mensagem veiculada e o próprio órgão autorregulamentador tenha se posicionado. Agora, o mais preocupante é que a propaganda não cria tendências. Pelo contrário, a partir de pesquisas ela identifica valores em transição, demandas e traz para a mensagem do produto. Por meio da publicidade é possível se fazer uma leitura dos valores de um povo em um determinado tempo histórico.
É lamentável que, como igreja do Senhor Jesus, raramente conseguimos nos enxergar no que é veiculado pela mídia. Não temos um lastro cultural evangélico no Brasil, como alguns países têm. Raramente vemos os valores cristãos evangélicos presentes na arte em suas diversas expressões, a não ser, em certa medida, por meio da música chamada gospel. Portanto, é muito difícil para nós convivermos nessa dualidade do que vemos e sentimos e o que nos esforçamos por praticar e viver como cristãos. Imagine o que acontece com nossos adolescentes e jovens!
O nosso grande desafio, especialmente para os que são referências, como pais, familiares e líderes é por meio das nossas ações, palavras e profissões vivenciadas como ministérios, influenciar com a Palavra de Deus a nossa cultura e as novas gerações. A começar de cada um de nós, precisamos valorizar o ser, alvo do amor de Deus e do sacrifício de Jesus, e sermos exemplos na prática dos princípios que trazem realmente um sentido para a vida.

(Publicada em OJB - 25out09)

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